Luís Mileu

(PT)

Havana, 2009

Entre ruas gastas e luz filtrada por décadas de história, fotografei em Havana um percurso íntimo, mas profundamente ligado à cidade e aos seus habitantes, num registo entre o street shooting e o retrato espontâneo, uma abordagem quase documental, mas sempre pessoal. Era frequente acabar a jantar ou a tomar um café com os retratados. O melhor da viagem.

Esta imagem, em particular, nasceu de um desses encontros, mas sem consequência relacional. A pergunta que ela responde "Are we shooting in the dark?" vai além do literal. É uma reflexão sobre o próprio ato de fotografar: sobre a tentativa de captar o outro sem o conhecer, de contar uma emoção num instante. Como um disparo no escuro, a fotografia torna-se uma busca, nunca completamente bem-sucedida tecnicamente. O desfoque passa de erro a tempo, movimento e incerteza.

Viajar sozinho abre espaço para uma escuta diferente. A relação com o outro torna-se direta, despojada, imediata. Foi assim que, dia após dia, fui construindo este conjunto de imagens, encontros breves, mas intensos, com rostos que trazem no corpo e no olhar, a vida.

(EN)

Havana, 2009

Between worn streets and light filtered by decades of history, I photographed an intimate journey in Havana, but deeply connected to the city and its inhabitants, in a record somewhere between street shooting and spontaneous portraiture, an almost documentary approach, but always personal. It was common to end up having dinner or coffee with those portrayed. The best part of the trip.

This image, in particular, was born from one of these encounters, but without relational consequences. The question she answers - "Are we shooting in the dark?"- goes beyond the literal. It is a reflection on the act of photographing itself: on the attempt to capture the other without knowing them, to tell an emotion in an instant. Like a shot in the dark, photography becomes a quest, never completely technically well succeed. Blur moves from error to time, motion, and uncertainty.

Traveling alone opens up space for a different way of listening. The relationship with the other becomes direct, stripped, immediate. That's how, day after day, I built this set of images, brief but intense encounters with faces that carry life in their bodies and in their gaze.